sábado, 13 de abril de 2013

Macerófagos



I

Enquanto maceram-se os alimentos

Vão se ruminando os pensamentos

As azias que corroem

As idéias que corrompem

Regurgitam-se trituradas

As mais preciosas esperanças



II

Cavalo que sou

Macerei do melhor

E no fino manto relvado

Esterquei minhas abjeções



Asno que sou

Ponderei mais que o devido

E por vezes descobri tardiamente

O erro do caminho escolhido



III

Macerado, deglutido

Dia a dia ingerido

À mesa do tempo que passa

Repleta, farta dos eventos servidos



Macerófagos, todos juntos macerando

Revirando, remoendo, desfazendo a solidez

Devagar se esvai o sumo

Devagar se encontra o rumo



Macerófagos macerantes

Mastigam, trituram

Músculos, ossos

Folhas, fibras e sementes



Ruminam dúvidas, certezas e temores

Dilaceram as próprias esperanças

Num macerar sem sabores



Pedro Luiz Da Cas Viegas

Porto Alegre. Junho, 2001.

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