quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Tsunami
Tsunami, venha e me leve.
Lave os caminhos, arrase, lave, leve.
Seja breve.
Sim, eu sei, ao chegar eu sei que morro.
Eu prometo, eu não corro – Inútil desatino.
De longe traga nessas águas meu destino.
Traga tudo que existe nessas ondas.
Nessas massas tudo trague.
Nessas vagas que assombram.
Lave as orlas.
Invada o mar o continente.
Lave, leve as vidas desta gente.
Leve, lave as ruas da cidade.
Trague, cale os piedosos penitentes.
Afogue os presentes, os passados, os ausentes.
Leve os corpos afogados.
Lave os fatigados pavimentos.
Leve o meu corpo em meio aos excrementos.
E se faça toda fúria suave calmaria.
Então retorne ao seu leito n’oceano.
E se faça o silêncio logo após cair o pano.
E repousem as memórias na placidez das águas frias.
Pedro Viegas.
Porto Alegre, dezembro, 2001.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Vivendo
Perdeste o jeito.
Teus olhos não são mais os mesmos
e os cães já não te fazem festa.
Teimas em despertar para fazer o mesmo
a cada dia mais curto.
Perdeste o jeito, mas contens
uma centelha.
Perdeste o jeito e estás contido
em contos nunca escritos.
Teus olhos correm ao prato
de mangas fatiadas.
E ainda continuas vivendo
pretendendo se andradiano.
Pedro Luiz Da Cas Viegas
Cachoeirinha, 01 de agosto de 2016.
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